A frase ficou famosa e o tempo mostrou que sua ilusão durou pouco, logo os britânicos, reabilitariam Winston Churchill para dar um cavalo-de-pau nas ações anti-Eixo.
Da mesma forma, Trump sugere que uma solução para a guerra na Ucrânia envolveria, essencialmente, aceitar as demandas russas. Impossível não relacionar esta postura ao erro de Chamberlain na lida com a Alemanha nazista. O que se apresenta, portanto, não é um acordo de paz, mas sim a normalização da agressão como instrumento legítimo de política internacional.
Após a 2ª Guerra Mundial, as democracias liberais, sustentaram uma ordem mundial não apenas pelo poder militar e pelo equilíbrio de forças, mas também por normas, instituições e interdependência econômica. A paz e uma relativa estabilidade, não pode ser mantida por concessões a autocratas expansionistas, mas pelo fortalecimento de regras coletivas que restringem o uso arbitrário da força e garantem a autodeterminação dos povos.
A postura de Trump e Putin vai contra esta lógica. Ambos representam o avanço de um modelo iliberal, em que relações internacionais são regidas pela imposição unilateral de interesses, sempre a favor dos mais fortes. Se essa visão se consolidar, podemos testemunhar o enfraquecimento de pilares fundamentais de uma ordem liberal.
Surgem assim mais perguntas: qual será a postura dos países democráticos? Aceitarão passivamente estas mudanças ou tentarão reafirmar os princípios, que por décadas sustentaram uma estabilidade relativa? As respostas podem estar no exemplo histórico aqui citado, que deixa uma incômoda lembrança de que concessões a líderes expansionistas não trazem paz, apenas adiam conflitos potencialmente maiores e mais destrutivos.
Já para responder a pergunta-título do texto, é possível afirmar que existem atores de peso trabalhando pela construção de uma nova ordem mundial, mas sua arquitetura ainda não está definida. Se a visão de mundo de figuras como Trump, Putin Xi Jinping e Orbán vencer, provavelmente estabilidade não será mais a regra. O futuro pode nos reservar um cenário em que o mais forte manda através de seus instrumentos de força e as democracias se tornarão exceções.
Por Edson Lau